Cobra Kai entrega na 3ª temporada os desfechos do que rolou na anterior, com passado e presente caminhando juntos, e protagonistas unindo forças para derrotar um vilão indigesto
Antonio Lemos
Se eu falar que o clima de nostalgia estava no ar durante a terceira temporada de ‘Cobra Kai’, certamente seria um clichê. A continuação da série originária do clássico ‘Karatê Kid’ foi disponibilizado pela Netflix no primeiro dia de 2021 (melhor notícia até então) e não perdi tempo para tirar a tarde ao maratonar os 10 episódios (poxa produtores, poderia aumentar a quantidade de capítulos, é muito pouco).
Assim como no post anterior, vai rolar alguns spoilers, mas nada que faça os leitores deixarem de mão e não acompanhar, Já posso adiantar que foi uma das melhores temporadas produzidas com passado e presente caminhando juntos, lições, dramas, a famosa treta entre os protagonistas e aquela frase que costumamos ouvir de que a “união faz a força”.
Para começar, não há salto no tempo desde a fatídica batalha na West Valley High School entre Cobra Kai e Miyagi-Do, onde todos saíram perdendo. Miguel (Xolo Maridueña) ficou entre a vida e a morte com possibilidade de não andar, Robby (Tanner Buchanan) passou alguns episódios foragido, Samantha (Mary Mouser) se sentiu culpada por tudo que ocorreu e passou a ter crises de pânico, e Tory (Peyton List) queria se vingar da sua rival. Enquanto isso, os protagonistas Daniel LaRusso (Ralph Macchio) atravessava problemas com os seus negócios, manchados pelos acontecimentos, e Johnny Lawrence (William Zabka) procurava consertar os erros do passado e presente.

Por falar em passado e presente, a narrativa atemporal com os principais personagens continuou. Podemos perceber, por exemplo, como se desenhou a personalidade de John Kreese (Martin Kove), onde era um simples funcionário de lanchonete e sofria bullying dos clientes, virou soldado na Guerra do Vietnã e tornou aquele vilão indigesto que torcemos para levar a pior no final. De um personagem secundário na temporada anterior a persona fria, rasteira e venenosa como uma cobra.
Com o desenrolar da trama, LaRusso e Lawrence tiveram raros momentos de que poderiam trabalhar em equipe e um objetivo em comum; Robby. Os dois apareciam em cenas dignas de filmes policiais (daqueles bem pastelões) dos anos 1980, com tons de humor e a pancadaria comendo solta. Ambos não queriam recuperar o amor e a confiança do garoto, que mais para frente terá um desfecho indigesto. No entanto, qualquer faísca que saísse no pavil, eles acabavam brigando como adolescentes imaturos. Paralelamente, conforme dito parágrafos atrás, os negócios de Daniel não andavam bem, e precisou cruzar o oceano para poder ter o crédito necessário, além de buscar o seu equilíbrio na ilha de Okinawa (Japão) – estão sentindo alguma referência com algum ‘Karatê Kid’ no ar? Pois é, os personagens de A Hora da Verdade Continua (1986) reaparecem em sua vida, e a conexão com o saudoso Sr. Miyagi (Pat Morita) ficou mais forte do que nunca.
Enquanto nos Estados Unidos, a esposa do personagem de Macchio, Amanda (Courtney Henggeler) percebeu que o Cobra Kai virava ameaça e passou a se unir com o “bonde” de quem queria Kreese longe do West Valley. Já o personagem de Zabka continuava sendo aquele cara irreverente e sem filtro, onde os melhores momentos da temporada foi ao lado do seu pupilo Miguel. Do processo de recuperação do adolescente, passando por usar o Facebook no computador e tirar fotos para adicionar na rede social, e levá-lo a um show de rock mesmo de cadeira de rodas, o tratamento era de pai e filho e jamais imaginaria que curtiria Lawrence mesmo assistindo mil vezes o filme de 1984. É um cara que busca sua redenção a cada temporada e será que terá um final feliz?
Alguém se lembra da última cena da 2ª temporada, quando o celular de Lawrence é lançado na praia e tem uma notificação de amizade do Facebook? A pessoa naquela mensagem era nada mais do que Ali Mills (Elisabeth Shue), primeiro amor de ambos no longa de quase 37 anos. O clima de revival entre os dois durou pouco, com direito a loira pedir para que o personagem de Zabka não estrague o seu futuro.
As lutas entre os adolescentes continuavam, não com a mesma gravidade no high school, mas a revanche entre as moças era inevitável de acontecer. Além disso, até então, alguns alunos saem do Cobra Kai e migram ao novo dojô criado por Lawrence. Um novo torneio de karatê vai agitar o West Valley, e com novos membros na academia de Kreese – praticamente todos sem nada na cabeça – e com poucos lutadores nos estabelecimentos dos protagonistas, nada como juntar suas forças para tentar derrotar o inimigo, que continua mais perverso e sem compaixão do que nunca. A rivalidade entre os dois vão até o túmulo, isso é fato, mas uma trégua para um bem maior promete agitar nos próximos capítulos. Para alegria geral da nação, teremos 4ª temporada, sim senhor!
Sabendo equilibrar a leveza natural dos seus personagens, a produção se mantém na sua proposta original, e entrega uma experiência divertidíssima e vibrante desde as narrativas até as cenas de ação. Como disse na parte introdutória: é uma das melhores temporadas (ainda acho a 2ª melhor), porém, o único problema é que são 10 episódios.
Uma consideração sobre “A união faz a força!”